quarta-feira, 17 de março de 2010

MICARETA 2010


GERALDO LIMA PARA REI

* Jozailto Lima

"Escarafunchando daqui da bela Aracaju o blog de companheiro Reginaldo Tracajá Pereira, eis que me deparo com a informação, trazida a lume e ampliada por Antônio Carlos da Costa Garcia, o mais feirense dos jornalistas feirenses em Sergipe, de que o jornalista e multiagitador cultural Geraldo Lima é candidato a Rei Momo. Candidato a Rei Momo desta que é a mais efusiva sarabandagem de baianos, popularmente conhecida como Micareta da Feira, que vem a ser a mãe e o pai, creio que mesmo antes do carnaval de Salvador, deste mundão de festas que se bifurcou Brasil afora e adentro, fazendo-se complemento anual e diário da alegria de se viver em Feira e no Brasil – porque sem festa ninguém segura este rojão, mermão! Pois bem: nem sei se é de verdade a busca dele por este posto de uma festa que chega aos seus 72 anos colada à alma do povo. Nem sei se o iconoclasta Geraldo Lima, que não o vejo há 20 anos, desde que arribei da Feira, está levando isto a sério ou se seria mais uma diabada de Reginaldo Tracajá Pereira. Mas não me importo com o formato do projeto deles, se sério ou se jocoso. Não tem problema: eu voto. E voto mesmo assim! Eu quero este afro paramentado de Rei Momo, em nome de Nossa Senhora Santana das Alegrias. E olhe, leitor, que eu sou um eleitor chato, daqueles que nunca pôs a mão noutra botija que não na ideológica para dar um voto, e é do alto desta consciência xaropinha que voto neste negão pra Rei Momo. Aliás, neste neguinho: por pura ideologia.E é exatamente pela condição de neguinho que apresento um dos fundamentos para o meu voto altaneiramente ideológico. Mas não é simplesmente por ser o ‘neguinho’ um ‘negro’ – um negro de boa cepa, dono de uma enorme ‘folha corrida’ na história cultural e comunicacional desta brava a Feira de Lucas. É pela esbeltia de Geraldo Lima, o que faz dele um neguinho e não um negão. Sim, pela imagem que guardo de Geraldo, das longas pelejas lá no impagável Feira Hoje, ele era magérrimo, primo-carnal dos gravetos, descendido direto daquele sabugo que deu no Visconde de Monteiro Lobato. E como diria Manuel Bandeira de si mesmo no poema ‘Auto-Retrato’, o nosso Geraldo ainda ‘engoliu um dia / um piano, mas o teclado / ficou de fora’, o que lhe dá a sempre formosura forçada e dentuça do riso eternamente armado, seja qual for a situação de aziago e azedume – que aliás, o nosso camaradinha cultiva com boa dose lá em seus esconsos. E quem não os cultiva, né grande Dimas Oliveira?E é nesta iconoclastia de Geraldo, um homem sempre e sempre lembrado como apensado às artes cênicas da nossa velha e boa Feira, que eu pego carona e amarro meu jegue ideológico. Vem da exata intenção – na qual voto de cabresto, a mando do coroné - de espalhar magreza na vastidão de gordos que empanturram os reinados de momo nos reinos mais distantes de todos os carnavais. Sim, respeitemos os gordos – eles são tão fofinhos, tão alegrezinhos, tão hipertesinhos, tão gatos de pensão, de novo como pontua Bandeira -, mas é preciso dizer que o tapete vermelho da passarela deve ser estendido também aos magros, aos magrinhos. Aos da zona zero cal. Aos de calorias apascentadas. E se tem que ser um magro – como já tem sido com os de Salvador -, que seja um magro do porte da esbeltia de Geraldo Lima a fazer jorrar por aí simpatia em nome da magreza e da alegria. Sim, nós podemos fazer de Geraldo o Rei. Não é isso negão?Aliás, negão poderia e pode ser o meu segundo argumento dito ideológico. Sendo a Micareta da Feira uma festa multicolor e sobretudo contemplada, bafejada e permeada pelo ébano do nosso povo negro – né isso, Nêgo Regi? -, por que não um bantão com o pé em Moçambique, Angola, Congo, Zaire, Gabão, Benin ou na Rua Nova envergando a coroa e empunhando o cetro? Tem alguma coisa contra, Jânio Rêgo, você que costuma ser contra só pelo deleitoso sabor de se ser contra?Mais do que um desejo possivelmente iconoclasta e passageiro de nosso Geraldo Lima ou de Regi, isto deveria ser lei. Alheio à algaravia das cotas, voto duplamente: em Geraldo para Rei Momo desta Micareta e, por decreto, pra que fique estabelecido que em 2011 outro da linhagem dele – magro e negro - esteja com a chave da cidade de Feira de Santana em mãos, imperando e distribuindo alegrias.Assim sendo, Feira de Santana, que sempre foi e sempre será uma das cidades mais encantadoras do Brasil, estará reparando 0,00009% das injustiças que comete contra altas figuras daí - e em assuntos bem mais sóbrios e sisudos do que simplesmente um seriíssimo reinado momesco. Se você, leitor, nunca pôs os olhos sobre um verso sequer de Roberval Pereyr, certamente não sabe do que estou falando, mas fatalmente é um dos que ajudam a nutrir esta absurda estatística de injustiças. Mas nunca é tarde, meu caro, pra você deixar de estar ‘na vida de bruços e ao avesso’, e ainda mais sem saber ‘de quem’. Fuja, meu bem: seja você mesmo seu ‘anjo’, mesmo que seu ‘urso também’.*

* Jozailto Lima, 49, é jornalista, foi repórter de política do Feira Hoje de 1983 a 1990, trabalhou nas sucursais da Tribuna da Bahia e do Jornal da Bahia, na TV Subaé. É poeta com três livros publicados. Em 1990 se mandou de Feira e atracou seu barco em Aracaju, Sergipe, onde é diretor de Jornalismo do Cinform, um dos maiores semanários do Brasil. Não fosse de Várzea do Poço, seria um feirense a mais e mais do que o é. Ah, além de tudo isso, é um puto ingrato com Feira, por onde sempre passa, nunca fica, o que deveria fazer em reverência a tudo que a cidade significou e significa para ele. (Reginaldo Pereira - Blog Foto & Grafia)

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